Tipos de teologias
1. Teologia especulativa, positiva e mística
2. Teologia investigadora e transmissora
3. Teologia das escolas e centros de pensamento
4. Teologia polêmica, irênica, simbólica e ecumênica
5. Teologia catafática e apofática
6. Teologia da cruz e teologia da glória
7. Teologia querigmática
No âmbito de uma única ciência teológica ocorrem muitos tipos. Os mais freqüentemente citados são os seguintes:
1. TEOLOGIA ESPECULATIVA, POSITIVA E MÍSTICA
A teologia especulativa privilegia as funções da razão e as suas operações cognitivas, enquanto a Sagrada Escritura e a Tradição são tratadas como ponto de partida, e o trabalho dos biblistas, patrologistas e historiadores dos dogmas, como uma preparação. Essa teologia teve o seu apogeu nas especulações escolásticas. Ela busca ser uma compreensão da Revelação – intelligentia revelationis e uma compreensão da verdade – intelligentia fidei. Pode desnvolver-se mais plenamente na teologia dogmática, e por isso considera essa área como teologia propriamente dita.
A teologia positiva privilegia as pesquisas da Sagrada Escritura, dos Padres da Igreja, os ensinamentos dos Concílios, da liturgia e de outros relatos da Tradição. Confere um valor especial à teologia bíblica e à história dos dogmas. Dedica muita atenção à análise e à síntese dos ensinamentos do magistério da Igreja. A moderna renovação da teologia e da vida da Igreja foi uma conquista da teologia positiva.
A teologia mística privilegia as experiências religiosas interiores dos Mistérios da fé. Vê na teologia positiva uma condição e uma etapa indispensável em direção à mística, a etapa que coroa o conhecimento da fé – scientia fidei. A diferente avaliação do valor da especulação criou duas correntes de mística: a corrente nitidamente racionalizada e humanística (Marsiglio Ficino e Pico della Mirandola), que alia a mística ao neoplatonismo e à escolástica; e a corrente exclusivamente vivencial, bíblica e desracionalizada [mística de Salamanca: S. Pedro de Alcântara (+1562), S. João da Cruz (+1591), S. Teresa de Ávila (+1582)]. Na teologia mística a teologia “genuflexa” predomina decididamente sobre a teologia “sentada”, e a teologia como “diálogo com Deus e a Deus”, sobre a teologia como “diálogo sobre Deus”.
2. TEOLOGIA INVESTIGADORA E TRANSMISSORA
No período patrístico a teologia brotava dos choques com os grandes problemas daqueles tempos: faziam-se perguntas sobre a unidade e a trindade de Deus, sobre o relacionamento de Cristo com Deus-Javé e com o panteão dos deuses pagãos, sobre a graça, o bem e o mal no mundo… A Idade Média, por sua vez, procedeu à construção de sínteses teológicas, a fim de transmiti-las às gerações futuras em forma de sumas escolásticas. Surgiram dois tipos de teólogos: uns faziam pesquisas, outros ensinavam. Os dois tipos são visíveis também na teologia posterior. Em geral apenas alguns indivíduos ou certos grupos empreendiam novas perguntas ou respondiam a perguntas antigas de forma nova ou renovada; os teólogos restantes transmitiam a doutrina já elaborada por outros, escrevendo manuais ou ensinando de acordo com manuais prontos. Os primeiros tornam-se os “criadores” da teologia, os segundos – os seus “transmissores”. Graças aos primeiros, a teologia se cria e rejuvenesce (teologia in fieri, in statu nascendi); graças aos segundos transforma-se em teologia de manual e escolar, sem a qual a formação do clero e dos teólogos leigos transforma-se quase numa utopia.
O tipo do teólogo “investigador”, que realiza pesquisas, é definido por muitos fatores:
1) aptidão para perceber os problemas;
2) capacidade de escolher o método de pesquisa;
3) visão do problema no amplo contexto da teologia, das ciências e da vida;
4) coragem;
5) carisma de teólogo;
6) olhos na frente e atrás (atrás para não se afastar das raízes da Tradição; na frente, para prever e ver os sinais do tempo).
3. TEOLOGIA DAS ESCOLAS E DOS CENTROS DE PENSAMENTO
As escolas teológicas existiram já na antiguidade (escola de Antioquia e de Alexandria). Desempenharam papel significativo na Idade Média a escola dominicana e a franciscana, bem como a dos vitoristas ou teólogos do convento de S. Vítor, nos arredores de Paris, especialmente de Hugo (+1141) e Ricardo (+1173).Na teologia contemporânea as divisões são feitas antes por regiões e ambientes. Fala-se da teologia sul-americana, da teologia do centro romano e alemão; começam a surgir artigos sobre a “teologia negra”, da África, e a “teologia amarela’, da Ásia. Na Polônia das últimas décadas formou-se um centro de teólogos no campo de influência dos professores pe. Inácio Rózycki (+1981) e pe. Vicente Granat (+1979). O Simpósio da Seção Dogmática dos Teólogos Poloneses organizado em Pelplin nos dias 17/18 de setembro de 1984 a respeito do tema Em busca da identidade da teologia polonesa, chamou a atenção para o problema das teologias nacionais. No período pós-conciliar criou-se um centro excepcionalmente criativo de teólogos ligado com a revista internacional “Concilium”.
4. TEOLOGIA POLÊMICA, IRÊNICA, SIMBÓLICA E ECUMÊMICA
O caráter desses quatro tipos de teologia é definido pela postura diante da teologia não católica ou católica não ortodoxa.
A teologia polêmica (do grego polemos – guerra) procura refutar as opiniões contrárias. Atingiu o seu apogeu histórico no século XVI, na luta teológica com o protestantismo. Visto que os reformistas posicionaram-se contra a escolástica baseando-se na Bíblia, a polêmica eficaz devia igualmente adotar uma teologia mais positiva, mais próxima do humanismo. Do grupo dos polemistas poloneses mais eminentes daquele período fazem parte: André Krzycki (+1537), Martim Kromer (+1589), Estanislau Hozjusz (+1579), Estanislau Sokolowski (+1593), Tiago Wujek (+1597) e Pedro Skarga (+1612).
A teologia irenista (do grego eirenikos – pacífico) apresenta as suas teses evitando disputas e ataques a quem quer que seja(desenvolveu-se após a Segunda Guerra Mundial a irenologia, ou ciência da paz religiosa).
A teologia simbólica (do grego symbolikos – que coloca lado a lado) constitui uma forma de teologia irenista. Sem intenção polêmica, coloca lado a lado as opiniões teológicas (ou a fé) das Igrejas cristãs, para destacar as semelhanças e as diferenças. Visto que são as Profissões ou Símbolos de fé que abordam a fé da Igreja da forma mais sintética, a posição das Igrejas é confrontada segundo a disposição lógica desses Símbolos. São utilizados também os textos simbólicos das diversas Igrejas, ou os livros teológicos mais importantes das diversas profissões religiosas, como os documentos conciliares ou a Profissão de Augsburgo. Um clássico da teologia simbólica é Johann Adam Möhler (+1838), autor da obra Symbolika. Um exemplo polonês da teologia simbólica pode ser o número especial da “Unidade”, revista mensal publicada pelo Consistório da Igreja Evangélica Reformada na Polônia; em colunas dispostas paralelamente, apresenta exposições concisas da fé e da teologia da igreja católica romana, evangélica de Augsburgo, evangélica reformada e ortodoxa, e essas exposições são feitas por teólogos das respectivas igrejas: um teólogo ortodoxo faz a exposição da igreja ortodoxa, um luterano da luterana, etc.
Teologia ecumênica (do grego oikoumenikos – universal). Não se trata aqui de uma seção da teologia que se preocupe com a problemática do ecumenismo, mas de um tipo especial de teologia que se caracteriza por uma postura em relação às fontes e por uma atitude na pesquisa e na exposição.
A teologia ecumênica considerada a partir das fontes:
1) amplia o âmbito dos loci theoligici, anexando a eles as fontes teológicas típicas de outras Igrejas, como os escritos simbólicos das Igrejas protestantes ou a liturgia das Igrejas ortodoxas, bem como a própria teologia das Igrejas irmãs (contrariamente ao princípio de que não devem ser lidos os teólogos não católicos);
2) controla e eventualmente corrige a sua própria hierarquia de fontes, por exemplo dando mais atenção ao primado da Sagrada Escritura (graças ao justo potulado da teologia protestante) ou ao significado dos Padres da Igreja orientais (graças ao justo postulado dos teólogos ortodoxos).
Considerada do ponto de vista da postura, tanto na pesquisa como na exposição, a teologia ecumênica procura, de forma consciente, levar em conta os três princípios formulados pelo Decreto sobre o ecumenismo (no 9-10) e pelo Diretório ecumênico (parte II, no 117), a saber: o princípio da verdade na apresentação da posição das Igrejas e dos teólogos de fora da nossa profissão religiosa; o princípio da benevolência, que facilita a boa compreensão do outro lado e a correta apresentação da sua posição; e o princípio da afável abertura aos tesouros que descobrimos nos outros e que podem nos enriquecer12.
Faz parte da teologia ecumênica igualmente a teologia que está amadurecendo nos diálogos doutrinários intereclesiais e que se pronuncia nos entendimentos publicados pelos grupos mistos que dialogam.
5. TEOLOGIA CATAFÁTICA E APOFÁTICA
A teologia catafática (do grego katafatikos – positivo, afirmativo) formula uma ciência sobre Deus para a qual – na sua própria convicção – encontra apoio nas fontes da teologia e também na razão humana. Quase toda a teologia escolástica e a teologia positiva fazem parte desse tipo de teologia.
A teologia apofática (do grego apofatikos – negativo), chamada teologia negativa, baseia-se na premissa de que só podemos falar corretamente de Deus negando, dizendo que ele não é por exemplo como nós, que não é limitado por qualquer coisa, que não se submete às categorias humanas de pensamento, etc., ao passo que as tentativas de afirmações positivas sempre têm que terminar no insucesso e na inverdade (além da afirmaçãode que Deus é, embora também nesse caso é preciso apressar-se com a restrição de que “é” de outra forma que nós e tudo que nos cerca). A teologia apofática enfatiza que Deus é maior que as nossas palavras e os nossos pensamentos, sempre maior e sempre diferente. Só não cometemos um erro quando afirmamos que Deus não é tudo aquilo que conhecemos. O tipo do pensamento teológico apofático expressa uma profunda falta de confança na especulação e no conhecimento pela analogia. Um eminente representante dessa corrente, o Pseudo-Dionísio Areopagita, escreveu:
“Ousamos negar tudo a respeito de Deus para chegarmos a esse sublime desconhecimento que nos é encoberto por aquilo que conhecemos sobre o restante dos seres, para contemplar essa escuridão sobrenatural que está oculta ao nosso olhar pela luz perceptível nos outros seres”.
6. TEOLOGIA DA CRUZ E TEOLOGIA DA GLÓRIA
Martinho Lutero gostava de definir a sua teologia com o nome de teologia da cruz, e chamava a teologia escolástica de teologia da glória.
De acordo com o seu nome, a teologia da cruz (theologia crucis) concentra-se na cruz de Cristo (entendida amplamente: como rebaixamento de Deus na encarnação, ocultação da divindade na humanidade, aviltamento na paixão) como sendo o “lugar” fundamental da revelação de Deus e da possibilidade de ser aí conhecido pelo homem. Na cruz Deus se oculta da forma mais profunda (Deus absconditus), e nessa ocultação mais profunda revela-se da forma mais plena (Deus revelatus).
A teologia da glória (theologia gloriae) – na interpretação de Lutero – é o conhecimento de Deus pelo caminho recomendado pela escolástica, isto é, o conhecimento da Sua grandeza a partir do mundo, através da analogia, com a apoio da especulação, à moda dos filósofos pagãos.
Embora a explanação reformista de ambos os termos, nitidamente polêmica, simplifique a questão (a escolástica não era indiferente à teologia da cruz, que se desenvolveu de forma excepcionalmente dinâmica por exemplo na escola franciscana), não deixa de perceber acertadamente duas correntes que estão presentes na teologia cristã de todos os séculos: 1) uma forte corrente de confiança otimista na razão e nas suas possibilidades de conhecer a Deus a partir das criaturas e 2) uma corrente paralela, embora menos espetacular, marcada por uma visão pessimista da luta da razão humana com o mistério divino (cf. a teologia apofática, a teologia mística, a teologia que serve de base para a devotio moderna, ou as tendências irracionais sempre presentes na teologia, que se manifestam também nos séculos XIX e XX).
7. TEOLOGIA QUERIGMÁTICA
O termo grego kerygma – que significa o anúncio por um arauto da vontade do rei ou de outra autoridade, proclamação, anunciação – foi introduzido em 1936 pelo jesuíta austríaco Joseph Andreas Jungman nas grandes disputas sobre a teologia. Ele constatou que a teologia escolar do seu tempo servia mal ao anúncio dos mistérios salvíficos da fé, e a dramática divisão entre a a teologia e a vida estava se aprofundando cada vez mais. Passou a postular então uma renovacão do querigma. De uma animada e demorada disputa brotou a consciência aprofundada de que toda a teologia, inclusive a sistemática, devia servir à missão fundamental da Igreja: o anúncio de Cristo e do seu Evangelho. Essa vocação básica de toda a teologia cristã deve definir tanto a escolha da temática, como a forma da sua elaboração teológica e a forma da sua transmissão pastoral.
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